Fliperama a-cho: parte da história dos jogos de luta está por um fio

Quando foi a última vez que você entrou em um fliperama? Se desconsiderarmos aquelas lojas localizadas em shoppings, a chance é que isso tenha acontecido há bastante tempo, talvez até mais de duas décadas. Mesmo sendo lugares que deram origem a histórias fascinantes, eles entraram em extinção e aos poucos estamos vendo desaparecer os últimos bastiões desse mercado.

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Crédito: Reprodução/zhan zhang/Unsplash

Daqueles que ainda permanecem abertos, um fliperama cujo iminente fechamento deverá causar um impacto imenso na preservação da história dos jogos de luta, é o Neo Amusement Space a-cho. Localizado na cidade que Quioto, a loja foi mais uma bastante afetada pela pandemia da COVID-19 e embora tenha resistido bravamente por alguns anos, no final de 2024 veio a fatídica notícia: em 31 de janeiro eles encerrarão as atividades.

Ver mais um fliperama chegando ao fim já seria motivo suficiente para muitas pessoas lamentarem, o que de fato está acontecendo na conta do estabelecimento no X, mas no caso do a-cho, o problema vai além de seus frequentadores não poderem mais “medir forças” contra outros jogadores.

O que está despertando a preocupação das pessoas que se preocupam em manter viva a história dos videogames, é o fato de que desde 2007 foram criados diversos canais no YouTube que se dedicaram a cobrir torneios e até simples partidas disputadas nas dependências do a-cho.

São páginas como a-cho GAME, a-cho staff e a-cho battle movie, onde podemos assistir disputas de jogos como The King of Fighters '98, Street Fighter III 3rd Impact, Garou: Mark of the Wolves, Guilty Gear Xrd -SIGN-, Dead or Alive 5 Ultimate e muitos outros. Porém, os jogos de luta não são os únicos, já que os shoot 'em ups e até quebra-cabeças marcam presença nos canais.

Crédito: Reprodução/Kevin Borrill/Unsplash

O risco aqui se deve a, de acordo com uma pessoa que trabalha no fliperama, eles terem que apagar todo ou quase todo o conteúdo presente nesses canais, com a data prevista para esse ato estando marcada para 28 de fevereiro. Também pelo X, o funcionário explicou o motivo para isso acontecer:

“Sobre o canal no YouTube, o a-cho será fechado e a equipe responsável por gerenciar o canal não terá mais nenhuma autoridade sobre ele. Além disso, os direitos de gerenciar o material em vídeo que pertence ao fabricante não pode ser transferido para terceiros. Por favor, entenda.”

Embora a medida pareça muito drástica, ela pode estar relacionada a maneira como os direitos autorais são tratados por lá. Assim, as pessoas que controlam a loja podem estar receosas quanto a manter esse material online e para evitar possíveis problemas, optaram por remover o conteúdo.

Com isso, uma parte importante dos arcades, especialmente dos jogos de luta, está prestes a sumir. Abrangendo partidas disputadas pelo menos desde 2002, somados, esses canais contam com mais de dez mil vídeos, com alguns deles trazendo figuras conhecidas do cenário de jogos de luta no Japão.

Crédito: Reprodução/Matt & Chris Pua/Unsplash

A esperança é que pelo menos uma parte desse conteúdo seja preservado pelos membros da comunidade de jogos de luta (FGC, na sigla em inglês). Para isso seria preciso utilizar ferramentas para baixar, armazenar e depois subir os vídeos para outros canais, que supostamente teriam como único objetivo especialmente a preservação.

Contudo, estamos falando de uma quantidade imensa de material registrado no fliperama, algo que exigiria um esforço descomunal, mesmo sendo dividido entre várias pessoas. Por fim, será que alguns dos responsáveis por essas propriedades intelectuais não acionarão seus advogados e exigirão que o conteúdo seja removido?

Esse é mais um caso de como a história dos videogames parece frágil, com ela estando sempre ameaçada de ser apagada. O que mais incomoda é que, muitas vezes o responsável por isso são os direitos autorais, ou melhor, os executivos que sentam sobre essas propriedades para fazer o que lhes vier à cabeça e pouco importando se o passado será afetado.

Para a maior parte do público, o desaparecimento de um canal no YouTube não fará a menor diferença, principalmente por esses em questão serem dedicados apenas a registrar algumas partidas. No entanto, estamos falando de campeonatos e de um gênero extremamente competitivo, onde os jogadores podem aprender (e muito) apenas vendo os outros jogarem.

Taito Station Akihabara, em 2020 (Crédito: Reprodução/Nicholas Doherty/Unsplash)

Logo, a menos que alguém garanta essa preservação, no futuro não poderemos utilizar o material gravado no a-cho como fonte de pesquisa e estudo, muito menos conseguiremos ver o desempenho de alguns dos principais jogadores japoneses.

No entanto, mesmo no caso deste louvável objetivo ser alcançado, ainda ficará a lamentação pelo fim de um dos principais centros de arcades do Japão, outra das mais de oito mil lojas fechadas no país na última década.

Mas infelizmente, esse é um processo inevitável. Embora esse epílogo dos fliperamas esteja sendo escrito há vários anos, a pandemia ajudou a acelerá-lo e resta, pelo menos aos japoneses, correr para aproveitar os últimos segundos dessa parte tão importante dos games.

E como disse o americano radicado no Japão, Andrew Fidelis, que atua como streamer e organizador de campeonatos, “a coisa mais triste sobre os fliperamas fecharem é que, uma vez que eles desaparecerem, desapareceram. Fliperamas e novas comunidades não estão sendo abertas. Poderá chegar um dia num futuro próximo em que os jogos de luta em fliperamas simplesmente não existirão mais.”

Triste, muito triste.

Fonte: Eventhubs

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